Então, que seja doce.

Que seja... E não importa como, apenas quero que seja, não quero voltar ao que já foi, e muito menos me prender ao que está sendo sem ser, apenas porque precisa ser, não vou mais fugir do que tem que ser, do que o futuro trás pra mim, porque eu quero que seja independente de como vai ser, cansei de não ser, ou achar que estou sendo quando não estou.

Que seja... Mas que não seja como está sendo, porque na verdade acho que estou vivendo, vivendo uma mentira, porque vivo querendo que as horas passem rápido, mas passar rápido pra quê mesmo? Pra dormir? Isso é viver? Sinto falta de adrenalina que é correr, tomar banho de chuva não porque a chuva me pegou quando eu estava voltando com pressa pra casa, mas sim por puro prazer, prazer de ir para o meio da pista e sentir cada gota de água ao encontro da minha pele.
Que seja... Porque parece que vivo esperando algo, ou alguém, mas no fim do dia fico absolutamente sem esperar nada de ninguém.

Que seja... Porque faz tempo que já não mais é, e faz tempo que precisa ser.

Que seja... Que eu me permita ser, porque reclamo de não ser, e  não faço nada pra ser.

Que seja... Porque sinto que meus dias estão sendo porque tem que ser, e na verdade são sempre a mesma coisa, a rotina me sufoca, e o tédio já faz parte de mim.

Que seja, porque tem que ser, precisa ser, eu quero ser, e vou ser feliz, hoje, agora, ou não, um dia, não sei, mas vai ser, ou seja, que seja...

"Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada" - Caio Fernando Abreu